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terça-feira, 26 de novembro de 2013

FILHOS DO TEJO - JAIME FERNANDES GRILO

FILHOS DO TEJO (primeira entrevista)


JAIME FERNANDES GRILO, nasceu em 08/01/1933, no Patacão de Baixo, concelho de Alpiarça, tendo vindo residir para a Chamusca em 1940, com 8 anos de idade.
Descendente de pescadores da Praia da Vieira, que imigraram da realidade salgada do mar para o imaginado leito doce do Tejo, para tentarem escamar o corpo pobre, incerto e fugidio do futuro. Aqui se acolheu em menino no berço do barco, embalado pela correnteza do rio e escutando o som das redes cortando o vento no lance para as águas profundas, trazendo à tona o coração dos peixes, para encher de vida e alegria o peito dos homens.
Viveu em palhotas e em barracas na borda d’água, sempre com os olhos mergulhados no rio e a alma cheia do Tejo.
Com apenas 8 anos de idade, sentindo correr no sangue o Tejo de várias gerações, tornou-se pescador. Pescava de dia e de noite com o pai, com a vontade firme de quem não brinca com a vida séria e responsável.
Foi à escola de fugida, porque o espírito das letras era mais leve que o peso da fome. Mas aprendeu com o Tejo todas as lições necessárias para se tornar um Homem digno.
Casou-se. Voltou a viver num barco e à proa do mesmo e com a mulher à ré lançaram as redes à vida.
Construiu a sua barraca com os proventos da pesca, mas quando o rio se tornou escasso de peixe procurou a terra e tornou-se igualmente agricultor. Conjugando as profissões de seareiro e pescador, conseguiu comprar a sua casa de tijolo e cimento mas com uma janela virada para o Tejo, para nele encher o olhar.
Protegeu e afastou os seus filhos do Tejo e pô-los a estudar, na perspectiva de lhes dar uma vida melhor, numa altura em que ele próprio, aos 33 anos, estudava e terminava a 4.ª classe.
Apesar da agricultura se ter tornado o seu principal sustento nunca abandonou a pesca, abraçando as duas actividades e mantendo a arte de construir barcos de madeira.
Aos 80 anos continua a pescar, apesar dos seus problemas de saúde, porque não consegue resistir ao apelo do Tejo e vai mantendo a esperança que um neto e dois sobrinhos hão-de continuar a labutar e a manter uma história de família com mais de 100 anos.
Este é, pois, um dos últimos filhos do Tejo no concelho da Chamusca. O sangue ainda vivo daqueles a quem deram o nome de avieiros.
Um exemplo de humildade, trabalho, dedicação, cultura e envolvimento do Tejo, no desenvolvimento da Chamusca e do Ribatejo.

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Como é que se deu esta ligação dos avieiros e da sua família com o Tejo?
Durante o período de maior intempérie no mar e de menos peixe, devido à necessidade de prover à sua subsistência, os pescadores da Praia da Vieira criaram o hábito de se deslocar para o Ribatejo e, durante os meses de Janeiro a Junho, fazerem a campanha da pesca ao sável no rio Tejo.
Os meus avós paternos e maternos e os meus pais faziam parte de um desses grupos e começaram a ter tanto gosto por esta região, que acabaram por aqui se fixar nos anos 20 do século XX, na zona do Patacão de Baixo, em Alpiarça, trazendo os seus conhecimentos e tradições a que hoje se chama a cultura Avieira.

Como era a vida destas famílias?
         A sua vida era praticamente feita no rio, trabalhando na pesca e vivendo dentro dos barcos que eram as suas casas e onde os casais chegaram a viver durante anos com os seus filhos, como aconteceu no caso da nossa família.
Os barcos, que se chamavam bateiras, tinham 6 a 7 metros de comprido e cerca de 1,10 metros de largura e eram compostos por 3 divisões: à proa situava-se o quarto dos pais e dos filhos, nas emparadeiras, a meio do barco, ficava a cozinha; a parte da ré era a oficina dos pescadores, onde se guardavam e preparavam as redes e os apetrechos da pesca.
Só algum tempo depois de nos fixarmos no Tejo começámos também a viver em terra, no interior de palhotas construídas com varolas de madeira e fechadas com telhados e paredes feitas de palha.
Alguns anos mais tarde, devido a uma melhoria de vida, começaram a construir-se barracas, que assentavam sobre estacas altas, que se chamavam palafitas, para que durante as enchentes do rio a água não entrasse nas casas.

Toda esta realidade de raízes tão profundas no Tejo e na sua família, só podiam fazer de si um pescador. Com que idade começou a dedicar-se à pesca?

 Primeiro gostaria de dizer que foi na Chamusca que iniciei a minha actividade de pescador.
Em Dezembro de 1940 os meus pais e os seus 5 filhos vieram para esta terra e fixaram-se no Porto do Carvão. Como aquela área sempre foi património da Câmara Municipal da Chamusca, através do pagamento de uma renda de 5 escudos por mês pelo aluguer do terreno, o meu pai foi o primeiro a construir ali uma barraca para albergar toda a família, que viria ainda a tornar-se mais numerosa com o nascimento de outros dois filhos,
E foi ali, daquele Porto, que aos 8 anos comecei a fazer-me ao Tejo e a ser companheiro de pesca do meu pai. Pescávamos noite e dia, sobretudo durante a noite, e só dormíamos por breves momentos na pausa da faina.
Tínhamos duas bateiras, uma maior e outra mais pequena, e andávamos na pesca durante todo o ano, pescando barbos, sável, saboga, fataças, bogas, carpas e lampreia.

Quando é que tinha tempo para ir à escola?

Não tinha tempo. Só fui à escola quando tinha 12 anos de idade e isso apenas aconteceu durante duas semanas, porque veio uma cheia e o meu pai foi pedir ao professor que deixasse que eu e o meu irmão Celestino faltássemos por uns dias, com a promessa que depois voltaríamos, pois precisava que fossemos ajudá-lo a trabalhar com a varina, que era uma rede de arrasto constituída por duas redes e um saco ao meio.
É claro que já não voltei à escola e só viria a ter novo contacto com as letras quando tinha 16 anos. Durante 6 meses andei a aprender no Manuel Barroso, que era um explicador que tinha um género de escola e onde aprendi a ler e a escrever algumas coisas, que me serviram para depois, quando andei na tropa, com mais algum tempo de estudos conseguir fazer a 3.ª classe.
Os anos passaram e só muito mais tarde, com 33 anos, por ter necessidade de tirar a carta de condução, para trabalhar na agricultura, retomei novamente a aprendizagem no mestre Manuel Barroso e me propus a exame, tirando a 4.ª classe no dia 17/04/1966. Nesse mesmo ano, em 20/07/1966, tirei a carta de condução.

Mas o menino que não ia à escola aprendia muito com a realidade do Tejo. Como era a vida no rio durante a sua juventude?
Na altura existiam na Vila da Chamusca três Portos: Porto das Mulheres, do Carvão e da Cortiça. No Pinheiro Grande também havia um porto. Para além dali estarem atracados e partirem para a faina os barcos dos pescadores, fazia-se um grande movimento de cargas e descargas doutras embarcações que transportavam carvão, lenha, cortiça, cal, vinho, sal e trigo. Tudo isto acontecia porque o Tejo era perfeitamente navegável e por isso era um meio muito utilizado na circulação de mercadorias.
Quanto à pesca, para além dos meus irmãos e dos meus pais, existiam outros avieiros no Porto das Mulheres. O Francisco Fernandes, o António Fernandes, o David Fernandes, o Joaquim da Silva e também a família Sequeira, o casal e os filhos Joaquim e José. Para além de muitas outras famílias a pescar ao longo do rio até Vila Franca de Xira.
Naquele tempo havia muito peixe no Tejo. Lembro-me, quando tinha 17 anos de idade, de termos feito um lance com a varina e pescado 225 sáveis. Era normal naquela altura em qualquer lance de rede trazer-se entre 50 a 80 peixes.
O peixe era tanto na zona de Salvaterra de Magos, onde pescávamos com frequência, que os golfinhos subiam o mar até ali e recordo com grande alegria a beleza dos seus saltos perseguindo os cardumes.

Entretanto tornou-se homem e teve que começar a pensar na sua independência e em criar a sua própria família. De que forma se desenrolou essa nova fase da sua vida?
Casei-me, com a minha prima Maria Lameira, também ela avieira, em 16/09/1956. Eu tinha 24 anos e ela 22.
Casar significou ter que sair de casa dos nossos pais e começarmos a lutar pela nossa própria vida.
Como a minha mulher é de Vale de Figueira ali casámos. A nossa lua-de-mel fez-se subindo o Tejo até à Chamusca, no barco que o meu pai me deu e que passou a ser a nossa casa e o nosso ganha-pão. Essa pequena embarcação foi a nossa residência durante 17 meses e ali trabalhámos com as redes que nós próprios construímos. Quando chovia ou fazia muito frio cobríamos o barco com um toldo para nos protegermos.
Naquele tempo só os mais velhos é que tinham casas, os mais novos viviam dentro dos barcos.
Passados aqueles 17 meses a viver no barco, já com algumas posses consegui construir uma barraca no Porto do Carvão onde viria a nascer a minha filha Ermelinda e onde já havia uma casa da minha irmã Maria Vicência e outra do meu pai.
Isto só foi possível com muito trabalho na pesca por parte dos dois. A minha mulher sempre pescou comigo. Ela à proa e eu à ré. E também com mais esforço e trabalho em terra para nos deslocarmos e tentar vender o peixe nos mercados da Chamusca, de Alpiarça, do Entroncamento e em Salvaterra de Magos quando íamos pescar para aquela zona. 

Apesar dessa dedicação ao rio e empenho na pesca, foi em terra e na agricultura que a vossa vida progrediu. Como é que se transformou num agricultor?

Aos 16 ou 17 anos já tinha ceifado trigo e trabalhado com uma debulhadora. Como a pesca estava muito ruim, pois começou a faltar o sável, aos 28 anos arrendei umas terras na Quinta da Lagoalva e comecei a fazer searas de campanha de tomate no Verão, vivendo durante o resto do ano da pesca.
          A agricultura tornou-se muito importante na minha vida, devido à facilidade de entrega do tomate nas fábricas da Compal no Entroncamento e posteriormente em Almeirim quando a fábrica para ali se mudou; na SIC, na Azinhaga; na Unital, nos Riachos e na Spalil, na Chamusca.
Nessa altura, a meio dos anos 60, a pesca já era secundária, porque com a construção da Barragem de Castelo de Bode o sável já não podia desovar devido à retenção das águas que tornavam o leito baixo, ou das fortes descargas que arrastavam as ovas e alteravam o seu habitat.
Se não fosse o trabalho do campo não teria conseguido, em 1968, comprar o terreno e podido construir a minha casa de tijolo e cimento. Aqui, a curta distância do rio, não só para ficar perto do Porto do Carvão, como para poder ter o Tejo sempre no olhar.

Foi por sentir essa falta de futuro na pesca que os seus filhos nunca seguiram a vida de pescadores?

Pelo quanto é difícil a vida de pescador, a escassez do peixe e o pouco dinheiro que se fazia, nunca quis que os meus filhos se entregassem à pesca e ao Tejo e meti-os a estudar.
 A minha filha nem sequer sabe remar e o Jorge, o meu filho, só vai ao rio de vez em quando.

Com a mulher e o filho Jorge, no dia da entrevista.

Para além da pesca e da agricultura também foi construtor de barcos!?
Sim, construí vários barcos. Alguns foram feitos para o meu uso e outros foram-me encomendados por particulares. Nunca aprendi carpintaria ou trabalhei como carpinteiro, mas sei construir barcos em madeira. Construí-os praticamente só usando como ferramentas uma enxó, uma plaina, uma serra, martelo e pregos. A formação foi passada de pais para filhos. Desde menino que ajudava o meu pai a construir barcos e foi vendo e ajudando que aprendi também a fazê-los.
Fotos durante o Processo de construção de um barco.




Trabalhando com o sobrinho Joaquim José Grilo Fernandes






Com uma idade já tão avançada, porque é que ainda continua a pescar?

         Continuo a pescar por necessidade, mas também para ajudar outras pessoas da família, como o meu neto Rui que pescou este ano comigo, de Fevereiro a Abril, na pesca da lampreia. É este peixe que ainda vai dando algum dinheiro, porque tenho um cliente que me compra tudo o que pesco.
       Tirando este período da lampreia, já só vou à pesca praticamente uma vez por mês, porque como já disse há muita escassez de peixe. Já não se encontra praticamente sável no Tejo e a fataça, as bogas as carpas e os barbos também são poucos.

Um dia de Pesca com a sua mulher










No seu entender a que se deve esta situação de escassez de peixe?

Em meu entender o peixe tem desaparecido devido ao lúcio, um peixe que foi introduzido no Tejo e que se alimenta das outras espécies, mas sobretudo devido aos corvos marinhos que se tornaram uma praga, mas são uma espécie protegida, e às descargas que trazem os poluentes matando alguns peixes e afastando outros.

O que é que sente por ser provavelmente o último pescador na história da sua família?

Tenho pena que a tradição da pesca possa acabar na minha família, mas também acredito e estou confiante que isso possa não vir a suceder porque estou a tentar puxar para o Tejo o meu neto Rui e também dois sobrinhos, o Joaquim José e o Fernando Chora, para que ele continuem este modo de vida.

Até quando é que vai continuar a pescar?

Vou pescar até poder, porque nasci no Tejo e foi nele que me fiz homem e comecei a ganhar o meu sustento. O rio faz parte da minha vida e não sou capaz de passar os meus dias só a olhar para ele, sem me meter à água.

Que mensagem final, relativamente ao Tejo, gostava de deixar?
Gostava de chamar a atenção das autoridades responsáveis pelo Tejo para cativarem funcionários descendentes de pescadores, devido à sua experiência, para fiscalizarem as pessoas que andam a praticar a pesca ilegal
E que, também, se esforçassem por tornar o Tejo mais navegável.




Dedico este trabalho à memória de todos os Avieiros e em especial a Américo dos Santos "Passarito", meu avô, um pescador encantado pela pesca da enguia e um peixeiro humilde e dedicado.

Agradecimentos:

A Armando Malaquias pelas fotografias, a da abertura desta página e de um dia de pesca e a Lurdes Couto pelas fotos do processo de construção de um barco.


Comentários no facebook e no blogue:


Maria João Almeida comentou uma ligação que partilhaste.
Maria João escreveu: "Espetacular, Carlos! Parabéns!"


Maria Fatima Lino comentou uma ligação que partilhaste.
Maria escreveu: "Parabéns Carlos Santos Oliveira pelos excelentes trabalhos de pesquisa."
Maria João Almeida
Maria João Almeida
Magnifico relato!

  • Carlos Bras-sandra Carapinha quem não se lembra deste senhor andar tejo a cima tejo abaixo a
     pescar a bela fataça eu lembro-me já la vai a alguns anos e se calhar ainda hoje continua .....
Eduardo Martinho



Gostei muito do que li e ouvi, que me fez recordar momentos da minha infância/juventude.

 Parabéns por mais este trabalho em favor da memória colectiva!



Jose Joaquim Braz comentou uma ligação que partilhaste.
Jose Joaquim escreveu: "As nossas raízes são a fonte de inspiração e de energia que nos anima e alimenta o espírito. O tejo, que serpenteia na lezíria, foi a fonte de alimento dos avieiros, o berço de gerações de homens e mulheres cheios de garra e de fibra, lutadores contra as adversidades da vida, ao longo de décadas de labuta e de sofrimento. O tejo é a grande artéria que desce das terras de Espanha e abastece com o sangue a seiva os campos do Ribatejo. Irmanados entre a campina e as águas rebeldes do tejo, os camponeses e os pescadores, ciganos do rio como lhes chamou Redol, foram desenvolvendo laços fraternos que deram origem a famílias, como as nossas, que resistiram a intempéries no tejo e à rudeza dos trabalhos agrícolas nos gélidos invernos ou nos tórridos verões, que requeimavam a tez morena destas humildes gentes. É por isso que tenho um orgulho imenso de descender deste povo que une os migrantes da Vieira e os camponeses do Ribatejo. Gente boa, trabalhadora, honesta, de uma têmpera de antes quebrar que torcer, com uma coluna vertebral tesa, que não verga nem se submete aos poderes instituídos. É de homens e mulheres como estes que hoje estamos a precisar para dar avolta a isto. O nosso país está mesmo a precisar dos filhos do tejo e da campina. Abraço amigo Carlos. Que a inspiração não te falte, porque talento tens a rodos...Bem hajas. Um grande abraço. JB"

Quarta-feira, 27 de Novembro de 2013



Um filho do Tejo

O chamusquense Carlos Santos Oliveira publica regularmente no seu blogue "Corações da Chamusca" interessantes posts com entrevistas que dão a conhecer pessoas que de outro modo passariam sem registo que fizesse perdurar a sua memória. E seria pena. Desta vez, traz até nós a vida de um filho do Tejo, pescador e agricultor, um homem que tem muito para contar. Vale a pena escutá-lo.
Eduardo Martinho

Acabo de "publicitar" a entrevista no meu blogue:


Luisa Amaral comentou uma ligação que partilhaste.
Luisa escreveu: "Obrigada Carlos por divulgares as nossas gentes, terras e costumes do nosso país que muita 
gente não valoriza mas que é magnifico."



João José Bento comentou uma ligação que partilhaste.
João José escreveu: "O escritor Alves Redol definiu de maneira fantástica a vida dos avieiros no rio Tejo durante muitos anos e quando já resta muito pouco da cultura avieira, também um poeta e escritor chamusquense, transporta para os CORAÇÕES DA CHAMUSCA, o que resta dos avieiros no concelho da Chamusca, toda a vivência dos filhos do Tejo, que numa primeira entrevista recolheu a história real de Jaime Grilo e família no berço do rio, que vale a pena ver, ler e compartilhar pedaços da história chamusquense. Deixo apenas mais um recado, nem só de homens se viveu a cultura avieira, as mulheres também a viveram e vivem intensamente. Estejam atentos porque vem aí mais um testemunho historico com uma mulher avieira. Deixo os meus Parabéns ao Jaime Fernandes Grilo, por nos ter deixado para a história pedaços da sua vida. Ao Carlos Oliveira, deixo aquele tributo de uma escrita perfeita e envolvente como nos transporta através dos tempos. Uma só palavra Excelente. Assina o sempre JJ."

Jorge Grilo deixou um novo comentário na sua mensagem
 "FILHOS DO TEJO - JAIME FERNANDES GRILO":

Carlos, trabalhaste o texto de modo muito expressivo, apreciei muito, 
agradeço-te todo o teu trabalho. Desejo que continues a fazer da tua arte 
da escrita uma valorização de outras pessoas e de interesses comuns
 que todos temos .

Uma história real, linda para sempre recordar
graças a alguém com grande coração
que valor e vida lhe soube dar
Obrigado! das minhas origens só me devo orgulhar.
Parabéns! este registo é digno de se divulgar.








domingo, 3 de novembro de 2013

VÍTOR BOTAS, AS ASAS DE UM CAMPEÃO




Com o troféu de Campeão Olímpico de Standard, conquistado em 1993 na exposição mundial realizada nas Ilhas Canárias.

VÍTOR MANUEL SALGADO BOTAS, nasceu em 02/08/1937, na Vila da Chamusca.
         Como o próprio afirma, nasceu praticamente columbófilo. As suas primeiras brincadeiras de infância foram feitas com penas de pombo e  admirando as aves do pombal do avô.
         Quando, em 1950, se criou a Associação Columbófila da Chamusca, o jovem de 13 anos pôde então começar a demonstrar todo o seu gosto pelos pombos, com a sua presença constante na barbearia, que servia de sede, onde se reuniam os columbófilos da Vila.
         Com os ovos e os pombos que os outros não queriam, começou aos 14 anos a criar pombos. Em 1954, aos 17 anos, ganhou quatro provas na categoria desportiva (sport), tendo igualmente um pombo que recebeu o prémio de melhor voador da campanha.
         As suas capacidades columbófilas começaram progressivamente  a definir-se com as vitórias que foi obtendo, só interrompidas pelo serviço militar obrigatório.
         Quando regressou, em 1960, trazia a ideia fixa de criar apenas pombos azuis listrados. Espécie que foi desenvolvendo e apurando e com a qual, contra todos os prognósticos e opiniões, se tornaria campeão em inúmeras provas de velocidade, meio-fundo e fundo na Associação Columbófila da Chamusca, na Associação Columbófila de Almeirim, onde voou três anos,  e igualmente a nível distrital.
         Foi campeão geral em praticamente todos os anos em que competiu, tornando-se uma enorme referência da Columbofilia desportiva, mantendo até hoje 3 recordes que parecem imbatíveis: na Associação Columbófila de Almeirim enviou 30 pombos para uma prova, tendo conseguido classificá-los a todos; a nível distrital conseguiu o feito de ter conquistado os três primeiros lugares numa prova de meio-fundo; detém desde 1972, no Clube Columbófilo da Chamusca, o melhor tempo e recorde da prova de Valência del Cid.
         Os seus métodos de treino em muito contribuíram para estes êxitos. O voar “à viuvez”, que consistia em separar machos e fémeas, para lhes acicatar o desejo de estarem juntos, mostrou-se fundamental no seu trajecto vitorioso.
         A sua ligação aos pombos era tão forte, que bastava um simples bater de asas, a silhueta de um pombo no céu para logo o identificar. Pôr-se de pé junto do pombal era o suficiente para os seus pombos, que andavam a voar, regressarem aos cacifos sem ser necessário o uso do apito.
         Esta simbiose entre o homem e o pombo tornou-se ainda mais evidente e gloriosa, quando Vítor Botas aderiu à categoria de standard, que consiste na exposição dos pombos, que são avaliados pela sua elegância, plumagem, ossatura e equilíbrio.
         Através do cruzamento de várias espécies conseguiu criar pombos que lhe deram uma dimensão extraordinária, ao ser Campeão Nacional durante 18 anos, ter obtido por várias vezes o título de Campeão Ibérico e a coroa extraordinária de rei do standard mundial, ao ser Campeão Olímpico em 1993, nas Ilhas Canárias, ente milhares de participantes.
         Antes da fabulosa vitória olímpica, já a Revista Columbofilia, em 1984, o considerava o melhor columbófilo português de todos os tempos na categoria standard e também o belga Jules Dehautschutter, no livro “O Caminho do Êxito”, publicado na Bélgica e traduzido para muitos outros países, entre eles Portugal, o incluía entre os grandes columbófilos mundiais.
         Esta sua envolvência com os pombos estendeu-se igualmente à Direcção Associativa, tendo sido Director do Clube Columbófilo da Chamusca, da União Columbófila de Almeirim e Director Técnico da Associação Columbófila do Distrito de Santarém.
         Por toda esta sua dedicação, empenho e trajecto de sucesso em Portugal e a nível mundial, seria agraciado pela Federação Portuguesa de Columbofilia com a medalha de prata, a medalha dourada e os diplomas de louvor respectivos, “pelos serviços relevantes prestados à Columbofilia.”
         No ano de 2000, infelizmente, por razões que se prendem com a sua vida profissional, viu-se obrigado a abandonar a columbofilia e a vender os seus pombos, terminando assim uma carreira extraordinária.
         Contudo, todo o seu longo percurso de dedicação, colaboração e de êxitos retumbantes é inapagável e colocam-no e elevam-o ao pódio da columbofilia Portuguesa e Mundial, à história da qual ficará ligado para sempre.
         Este é, pois, o bater de asas inesquecível de um grande CAMPEÃO!

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Como é que nasceu a sua paixão pela columbofilia?

Costumo dizer que nasci praticamente columbófilo. O meu pai faleceu de tuberculose  tinha eu 18 meses. Fui criado pela minha mãe e também pelos meus avós que tinham alguns pombos. As brincadeiras da minha infância eram feitas a correr, com duas penas grandes uma em cada mão, a imaginar que voava e à volta de um cacifo com um casal de pombos.
Mais tarde, em 1950, o António Ai, o José Palmeta e o Augusto Ferreira Lourenço, formaram a Associação Columbófila da Chamusca. Não havia sede e as reuniões faziam-se na barbearia do António Ai, onde eu também aparecia frequentemente. Nessa altura, com apenas 13 anos, não tinha qualquer pombo, mas já mostrava muito interesse pela columbofilia. Devido a isso o José Araújo deu-me uma fémea e o Gaspar Almeida e Silva dois ovos. Um ovo viria a partir-se mas do outro nasceria um pombo vermelho.
E foi assim que em 1954, aos 17 anos, com alguns pombos filhos daquele casal, fui vencedor de quatro provas realizadas pela Associação da Chamusca e obtive o prémio de melhor voador da campanha, com um pombo vermelho nascido daquela reprodução. Perante estes resultados comecei logo a aperceber-me que, para além do gosto, tinha muito jeito para os pombos. Por isso fui arranjando outros e vencendo cada vez mais provas.

Começou aí o voo imparável do campeão?

Não, porque em 1958 tive que ir para o serviço militar mantendo apenas no meu pombal dois casais de pombos azuis.
Só ao terminar a tropa, em 1960, voltei novamente a ligar-me aos pombos, trazendo uma ideia fixa de começar a criar somente pombos azuis listrados. Apesar de todos me dizerem que era muito difícil conseguir só ter pombos dessa cor e obter bons resultados, tal viria a constatar-se não ser verdade, pois comecei aí a minha carreia de campeão geral de sport na Chamusca. Título apurado através do somatório dos pontos obtidos pelas classificações dos pombos nas provas de velocidade, meio-fundo e fundo.



O sorriso de um Homem a caminho do êxito.

Como é que se obtinha a classificação dos pombos que participavam nessas provas?

No início não existiam máquinas para registar as anilhas dos pombos quando estes chegavam das provas. Por isso quando cada um chegava, corria-se para casa do Gaspar Almeida e Silva, que tinha lá uma base em madeira com um prego e o primeiro que enfiasse a anilha nesse prego é que ganhava. Não haviam coordenadas, descontava-se apenas 11 segundos por cada 100 metros de distância da casa do Gaspar, tempo só mesmo ao alcance de grandes atletas do atletismo, o que fazia com que ganhassem quase sempre aqueles que tinham os pombais mais perto.
Isto acabou, quando mais tarde se compraram duas máquinas para registar as anilhas. Contudo não posso deixar de recordar com grande saudade aqueles domingos, com a agitação de tanta gente a correr pelas ruas da Vila, dando vida e alegria à Terra.
Actualmente é mais fácil e correcto registar o tempo feito pelos pombos nas provas, não molestando as próprias aves. Porque enquanto nós tínhamos que os agarrar para lhes tirar as anilhas e registá-las nas máquinas, hoje os pombos têm um chip na anilha e entram directos e soltos no pombal, porque são registados à entrada pelos sensores existentes nos pombais.

Pode precisar os principais títulos que conquistou com os seus voadores nas diversas provas sport?

Por épocas é mais fácil fazê-lo. Na Chamusca, de 1960 a 1964 fui campeão geral. De 1964 a 1966 houve uma interrupção na actividade na Chamusca, com o fim da Associação Columbófila, que viria a ser activada ainda em 1966 pelo Traquínio Castelão e pelo Vitorino Tanoeiro. Depois voltei novamente desde 1967 a 1881 a ser o campeão geral na Chamusca.
De 1982 a 1984 fui voar para a Associação Columbófila de Almeirim, onde fui campeão durante essas 3 épocas. Ali ainda mantenho o recorde de ter enviado 30 pombos para uma prova e tê-los classificados a todos.
Em 1985 regressei à Associação Columbófila da Chamusca onde fui campeão geral até ao ano de 2000, quando abandonei a columbofilia.
Obtive também muitas vitórias a nível distrital. O maior destaque foi o de ter obtido os três primeiros lugares numa mesma prova de meio-fundo.
Em 1972 tive um pombo que ganhou a prova de Valência Del Cid e que fez um recorde que se mantém imbatível, na Chamusca, até hoje.
Gostaria de referir o facto, que para mim é um título, de ter tido um pombo que, em apenas 3 anos, voou 17 vezes ao fundo (provas com mais de 500 Kms), tendo-se classificado sempre.


Recebendo o troféu por mais uma vitória.

Tinha algum método especial de treino, ou de outra natureza, para os seus pombos obterem tão bons resultados?

Até 1964 fui treinando voando ao natural. Os machos e as fémeas viviam juntos no mesmo pombal. Mas o Pé-de-Figueira “velho” tinha lido um livro de Leão Maia e começou a seguir as suas instruções para praticar outro tipo de treino que era “a viuvez”. Este método consiste em separar os machos das fémeas, não só durante os treinos mas também durante as provas, só na chegada voltando a ficar juntos no cacifo. Isto obrigava os pombos a voar com mais intensidade e a chegar dos concursos mais rapidamente, por causa do sexo.
O Pé-de-Figueira não obteve grandes resultados, mas quando eu implantei este método, em 1964, tendo apenas 11 pombos, consegui ganhar 11 primeiros prémios.
Durante muito tempo também voei com as fémeas à viuvez. Só que se chegava a meio da campanha e elas acabavam por se acasalar com outras, perdendo o interesse pelos machos e já não regressando das provas para os primeiros lugares.
Mas eu tinha também o meu próprio método de treino para recuperar os pombos depois dos concursos.  De manhã punha-os a voar 10 ou 20 minutos. De tarde, por volta das 17:30, deixava-os esvoaçar uma hora em liberdade. Os que não aguentavam regressavam ao pombal, directos ao cacifo, os outros iam ficando no ar.
Na quarta-feira já estavam todos recuperados do esforço da prova anterior e assim podiam sair todos os domingos na máxima força.

Grande parte desses prémios obteve-os como membro do Clube Columbofilo da Chamusca. Era um Núcleo importante?

Nós tínhamos muitos associados, o que levou a um grande envolvimento das pessoas da Chamusca na columbofilia. Tivemos muita gente com mérito que ganhou várias provas a nível distrital. Levando, inclusivamente,  a Associação da Chamusca a ser algumas vezes campeã distrital de fundo.
Para além disso havia um excelente ambiente e muita amizade, mantendo-se dessa forma uma vida associativa muito importante para o desenvolvimento social da Chamusca.
Fico contente por ter contribuído também como Director, durante vários anos, para que se mantivesse a actividade nesse Clube.

Algumas fotos relativas a actividades do Clube Columbófilo da Chamusca


Usando da palavra, ladeado à direita por Custódio Aranha uma das maiores referência do Associativismo na Chamusca.


Numa foto (no Montepio União Chamusquense) com muitos daqueles que contribuíram para que o Clube Columbófilo da Chamusca tivesse tido uma grande implantação associativa na Vila e uma excelente representação a nível distrital e nacional. À direita, de fato preto, está José Palmeta outro dos fundadores do Clube e grande columbófilo.



Uma foto de grupo. Na fila de baixo, de casaco preto, encontra-se António Ai, um dos fundadores do Clube Columbófilo da Chamusca.

Início dos anos 70, recebendo vários troféus das mãos do Presidente da Câmara, Eng.º Lopes da Costa.





Com outros membros da Direcção, por detrás da bancada de prémios para serem atribuídos numa época desportiva.



Com o filho Bruno depois de uma entrega de prémios. As mãos carregadas de troféus.



Recebendo um troféu, entregue pelo Presidente da Câmara Municipal da Chamusca Sérgio Carrinho. Mais à direita da foto encontra-se Vitorino Tanoeiro, um dos homens que foi responsável pelo reinício da actividade do Clube Columbófilo da Chamusca. 

Para além desse cargo na Chamusca, teve mais algum a nível directivo?

Fui igualmente Director durante o período em que permaneci na Associação Columbófila de Almeirim e pertenci ao Conselho Técnico da Associação Columbófila do Distrito de Santarém.

Mesmo com tanta envolvência, ainda teve asas para um novo desafio. Como é que se deu a sua entrada gloriosa no standard?

Quando o Arménio Esteves publicou no Mundo Columbófilo, uma revista nacional sobre pombos correios, o regulamento sobre pombos standard, uma espécie de concurso de beleza onde os pombos eram pontuados pela sua elegância, ossatura, asas, plumagem e equilíbrio, dei uma volta pelos meus pombos e vi lá um que pareceu reunir essas condições. Houve uma exposição em Torres Novas e levei esse pombo. O curioso é que me deixaram pagar  a inscrição, que custou 10 escudos, e no final apesar da ganhar o 1.º prémio não mo deram, dizendo que não o podia receber devido a não pertencer àquela Associação.
Essa peripécia não me desanimou e ainda nesse ano acabei por ser campeão distrital standard com o mesmo pombo.
Mais tarde, num leilão de borrachos nos Riachos, comprei uma fémea para acasalar com aquele pombo e foi daí que nasceu a minha criação de pombos de standard.



Colocando um pombo no cacifo numa exposição distrital.

Como é que fez dos seus pombos campeões de standard?

Isso aconteceu sobretudo através do cruzamento de espécies.
Quando comecei os romenos ganhavam as olimpíadas todas, porque tinham um tipo de pombos que não existiam em Portugal. Como os romenos tinham dificuldades nas máquinas registadoras de anilhas, o Presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia, Júlio Jarego da Fonseca, conseguiu fornecer-lhas com uma contrapartida, que envolveu a vinda de alguns pombos deles para Portugal e que foram leiloados em Lisboa. Eu comprei uma fémea que introduzi entre os meus pombos e que melhorou a minha qualidade para o standard.
Mas a coisa não ficou por aqui, porque mais tarde o Júlio Jarego da Fonseca importou pombos do Dourdin, de França, que eram aves extraordinárias. Quando ele os vendeu em leilão, eu comprei um macho que foi acasalado com a pomba romena e que melhorou o sentido do standard. Mais tarde viria também a obter melhorias a nível da cor com a inclusão entre os meus pombos de uma pomba Strasser, que tinha vindo da Ilha da Madeira, de cuja reprodução saiu um macho que foi campeão nacional de standard em todas as suas 4 participações.



Os seus resultados foram extraordinários, em Portugal, na Península Ibérica e no mundo!?

Alcancei grandes resultados. No livro “O Caminho do Êxito”, escrito pelo belga Jules Dehantschutter, sou referenciado como um dos grandes columbófilos mundiais e na foto ali publicada, à direita surge o macho com o qual fui, simultaneamente, campeão nacional de standard, campeão nacional de velocidade e de meio-fundo. Este macho representou ainda Portugal nas Olímpiadas de Tóquio em 1980, exposição que teve a particularidade extraordinária dos 10 pombos que representaram Portugal naquele Certame, 6 serem meus.


Na página 225 a relevância dada a Vítor Salgado Botas e aos seus pombos.

Mas, sem qualquer dúvida, a maior relevância foi ter sido durante 18 anos Campeão Nacional de standard. Campeão Ibérico por várias vezes e ter obtido o título de Campeão Olímpico em 1993, na exposição mundial realizada nas Ilhas Canárias, entre milhares de concorrentes.


Imagem da pomba que ganhou o título olímpico.

Contudo, nesse mesmo ano pus termo ao standard. Os pombos para poderem participar tinham que ter feito nos dois anos antecedentes 2.000 quilómetros de voo em provas, o que causava estragos e defeitos nas penas. Então começaram a aparecer sujeitos que matavam os pombos e lhes tiravam as anilhas para as enfiar em borrachos e assim enganarem e falsificarem os resultados, dado não haver forma de identificar os pombos a não ser pelas suas anilhas. Eu não queria fazer o mesmo, nem alinhar com essa batota, por isso abandonei as provas standard.






Mais um troféu para a sua preenchida galeria. No centro da fotografia, à direita, está o antigo Presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia, Gaspar Vila Nova. 


Dando uma entrevista para uma jornalista alemã, no Palácio de Cristal, no Porto.

Tantas vitórias e recordes foram fruto de algum segredo?

Os outros deram-me os ovos e os pombos que não queriam e foi com eles que comecei a minha vida na columbofilia e a ganhar. Por isso penso que foi o facto de ter nascido com uma sensibilidade especial para os pombos que me levou a ter tanto êxito e a obter tantos prémios e vitórias.
Eu entendia a linguagem dos pombos pelo voar, pelo bater das asas. Só pela maneira de se manifestarem já sabia de antemão que iam vencer as provas.
Sentava-me num banco dentro do pombal, onde tinha  20 viúvos e, sem olhar, só de sentir o seu bater de asas no voar para o chão e para o cacifo,  sabia de que pombo se tratava.
Quando um dos meus pombos surgia no ar eu identificava-o logo.
Tinha uma grande memória visual para os pombos. No meio de mil era capaz de identificar um que me tivesse passado pela vista.
A nossa ligação era tão forte e os pombos estavam tão educados, que quando eles andavam a voar bastava pôr-me de pé, junto ao pombal, para eles descerem do céu e entrarem para os cacifos sem ser necessário qualquer apito.


Apreciando o seu famoso "Clarito" vencedor de uma exposição nacional no Porto.

Perante tanto sucesso e sensibilidade em relação aos pombos, quais foram as razões que o levaram a abandonar a columbofilia?

Como a minha profissão de sempre foi a de agricultor e vivia de uma exploração vitivinícola, em 2000, com a falência da Adega Cooperativa da Chamusca, que me ficou a dever 2.000 contos, vi-me obrigado a fazer um leilão de pombos em Coruche para salvaguardar a minha vida e que, curiosamente, me rendeu 2.000 contos. Nesse dia foi o desfazer dos pombais, de toda uma vida de dedicação aos pombos e à columbofilia para salvar a economia da minha casa.

Isso significa que apesar de tantos êxitos não ganhou muito dinheiro?

Os prémios foram sobretudo troféus, medalhas e taças. Gastei muito dinheiro com os pombos. Na sua alimentação, na compra de vitaminas e na sua inscrição nas provas. Só recuperei e ganhei dinheiro com a venda dos pombos que fui fazendo a nível nacional. O sangue dos meus pombos está por todo o país e deu origem a muitos campeões.



Um olhar sobre uma parte da sua sala de troféus. 

O que é que sentiu ao deixar para trás 50 anos da sua vida?

         Nunca pensei que ia conseguir viver sem os pombos, mas hoje apaguei completamente a ideia sobre eles. Só não me consigo livrar deles quando durmo, porque muitas vezes ainda sonho com eles.

O que é que os pombos e a columbofilia significaram para si?

Significaram muito. A primeira coisa que fazia quando me levantava era limpar os pombais e pôr os pombos a voar. Só depois tomava o pequeno-almoço. Limpava 5 pombais, três vezes ao dia. Só quando não estava presente ao almoço, porque almoçava no campo onde trabalhava, é que a minha mulher tinha o trabalho de os limpar. Prejudiquei muito a minha vida porque não entregava os pombos a ninguém e não saía praticamente da Chamusca. Sacrifiquei muito a minha mulher e também o meu filho.
Mas os pombos e a columbofilia trouxeram-me também grandes amizades com pessoas de todas as classes sociais. Recordo aqui com especial apreço o Dr. Tereso que é actualmente o Presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia e um médico de grande craveira e também o anterior Presidente daquela Federação, Gaspar Vila Nova.
Permitiram-me conhecer o país inteiro e também as Ilhas Baleares, nas minhas deslocações para participar nas provas standard.


Recebendo os prémios em mais uma participação numa exposição nacional realizada no Porto.

Para além do reconhecimento pela minha dedicação, por parte dos amigos e columbófilos em geral, destacando-se a própria Federação Federação Portuguesa de Columbofilia que me distinguiu com a medalha de prata e, num jantar de homenagem realizado em Mira, me atribuiu a medalha dourada e respectivo diploma, “pelos serviços relevantes prestados à columbofilia”.




12/01/1985 - Recebendo das mãos do Presidente da Câmara Municipal da Chamusca, Sérgio Carrinho, a medalha atribuída pela Autarquia como reconhecimento pela sua intervenção sócio-cultural e desportiva.



12/01/1985 - Proferindo um breve discurso após receber uma salva de prata que lhe foi oferecida pelos seus amigos e columbófilos como reconhecimento pela sua grande dedicação e amizade.



Mais uma homenagem. No restaurante "Poizo do Besouro", recebendo uma placa atribuída pela Junta de Freguesia de Chamusca e entregue pelo Presidente Emídio Cegonho.



No dia da homenagem no restaurante "Poizo do Besouro". Apagando as velas de um bolo com o único fundador do Clube Columbófilo da Chamusca ainda vivo, Augusto Ferreira Lourenço.




Medalha dourada que lhe foi atribuída pela Federação Portuguesa de Columbofilia.

Quer deixar alguma mensagem final?

Queria deixar um grande agradecimento ao José Carlos Malaquias, porque nas viagens que fiz para as exposições foi sempre ele quem fez o meu transporte e o dos pombos.


Gostaria de dedicar este trabalho a todos os que fizeram da sua vida um caminho de dedicação ao Associativismo. O progresso e o desenvolvimento de qualquer Terra dependem muito deste movimento de integração social.
Dedicação extensível ao AMIGO de todos os dias e que tem colaborado comigo no decurso destes trabalhos: JOÃO JOSÉ BENTO.
Mais uma vez, em especial à minha MULHER. Porque desde sempre me tem incentivado e apoiado na divulgação dos Valores da Chamusca, que embora não seja a sua Terra a recebeu com muito carinho. 

Comentários no facebook e no blogue:

João José Bento comentou uma ligação que partilhaste.
João José escreveu: "VÍTOR SALGADO !!! Parabéns ao Carlos Oliveira, pelo trabalho realizado para a história do desporto nacional e internacional. Ao Vitor Salgado, estes são tributos mais que merecidos a um homem que sempre foi considerado ao nível internacional como um dos melhores columbófilos do mundo. A Chamusca também tem campeões Olímpicos !!!"

Aurelina Maria Conde Rufino
Aurelina Maria Conde Rufino
Parabéns ao homenageado e a quem fez a homenagem. Parabéns, também, a quem tem memória.
Paulo Major
Paulo Major4 de Novembro de 2013 9:19
sem duvida um grande campeao .ainda tive o prazer de concorrer com o vitor nos anos 80 e onde foi canpeao da classe jovens .

Rui Santos
Rui Santos3 de Novembro de 2013 22:29
Um grande Senhor... Saudades das historias que me contava quando eu era miudinho e os conselhos que me dava em relação aos pombos que serviram para o alcance de alguns troféus. Saudades desses tempos...
Eduardo Sousa
Eduardo Sousa4 de Novembro de 2013 8:02
PARABENS CAMPEAO
UM CHAMUSQUENSE COM PRÉMIOS OLÍMPICOS !!!

Antonio Julio Ferreira
Antonio Julio Ferreira4 de Novembro de 2013 23:40
foi uma grande referencia da columbofilia nacional,desejo que se encontre ainda bem de saude,o meu obrigado pelo que fez de muito bom na columbofilia

João Zarcos Horta
João Zarcos Horta5 de Novembro de 2013 5:03
Gosta de ter pombos um casal de pombos das linhas que ele antigamente cultivava...
J Ferreira Ferreira
J Ferreira Ferreira5 de Novembro de 2013 21:17
Famoso Salgado Botas, eu tive por intermedio de um velhote de Muge eram dos pombos do ´Zé Maria da Siva

J Ferreira Ferreira
J Ferreira Ferreira5 de Novembro de 2013 21:18
isto em 1984/5
Luis Filipe Imaginario
Luis Filipe Imaginario7 de Novembro de 2013 14:08
É isto que fazia falta na CHAMUSCA, alguém que mostre a toda a comunidade os feitos e mérito de grandes Chamusquenses que não são conhecidos da generalidade das pessoas, mas somente de uma minoria, este é mais um grande exemplo do que afirmo pois o Vitor Botas é um mais um caso de grande mérito, por isso PARABÉNS ao Vitor Botas e um agradecimento muito especial a quem está a fazer este e outros trabalhos sobre figuras da nossa Terra, e também pela forma que o está a fazer, que já caíu em desuso nestes tempos.......desinteressada e apaixonada, OBRIGADO CARLOS.
JORGE SANTOS3 de Novembro de 2013
Vitor Salgado Botas, um homem com quem tive o previlégio de contatar no Clube Columbófilo de Chamusca e que levou o nome da Chamusca por este nosso País e além fronteiras, ainda hoje o nome dele é recordado pelos columbófilos deste País. Já tive em vários pontos do País por causa da Columbófilia e quando digo que sou da Chamusca, perguntam-me logo se conheço o Vitor Botas. O Vitor Salgado, como é conhecido na Chamusca, vai sempre ficar ligado a este desporto e será sempre recordado pelos feitos que conseguiu. Deixo aqui uma palavra aos mais jovens, pratiquem a Columbófilia, um dos desportos mais lindos que se podem praticar, apareçam na sede do Clube Columbófilo e apreciem os feitos que os nossos pombos fazem, Na Guerra Mundial o pombo era considerado um Soldado fardado com penas, salvaram muitas vidas, pois Eles eram um meio de comunicação utilizado na altura. A conversa já vai longa, resta-me dar um abraço ao Vitor Salgado e claro, ao Carlos por mais um excelente trabalho, continua em frente é algo que fica, para mais tarde recordar. Bem Hajam!

Eduardo Martinho deixou um novo comentário na sua mensagem "VÍTOR BOTAS, AS ASAS DE UM CAMPEÃO": 

Acabei de ler o trabalho sobre o Vítor Salgado, que muito apreciei. A leitura trouxe-me à memória muitos nomes e lugares que me eram familiares na minha juventude. Fomos contemporâneos de tenra idade na Chamusca, vivíamos relativamente perto um do outro, ele em casa do avô e eu ao lado do seu tio Manuel Salgado. Sabia que o seu amor pelos pombos o tinha transformado num distinto columbófilo (até pelo que li na Chamusca Ilustrada em meados da década de 1970), mas não fazia ideia de que tinha atingido um patamar tão elevado. Não há dúvida: um Homem pode honrar a sua Terra de muitas maneiras. Parabéns! 

João Bento deixou um novo comentário na sua mensagem "VÍTOR BOTAS, AS ASAS DE UM CAMPEÃO": 

Vitor Salgado, como sempre o tratei é sem dúvida alguma uma referência mundial da columbófilia. Nasceu com a sensibilidade e a inteligência dos dos grandes campeões, aceitou desafios que outros julgavam ser impossível conquistar. Vitor Botas, levou o seu nome e o nome da Chamusca pelo país inteiro e pelo mundo fora, sendo destacado pelo melhor comentador, analista, especialista e escritor na área da columbofilia na sua publicação "O Caminho do Êxito, Apesar de todos estes seus triunfos, continua a ser um homem simples na senda dos grandes campeões olímpicos. 
  • Jorge Tavares Victor Salgado Botas
    Um Sr: da Columbofilia Naçional

  • Vitor Quintino Com uns azuis, clarinhos, ganhou tudo no Distrito de Santarem! Grande SENHOR!Bem haja.