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domingo, 24 de abril de 2016

PARABÉNS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DA CHAMUSCA




Parabéns Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca pelo 66.º aniversário, que se comemora hoje dia 25/04/2016.
Este blogue já lhe dedicou um tributo, publicado em 01/08/2014, com o título BOMBEIROS, A CHAMA DA SOLIDARIEDADE, contendo uma resenha histórica, várias fotografias, entrevistas e outros aspectos elucidativos do desenvolvimento, trabalho, coragem e dedicação dos homens e mulheres, Bombeiros, empenhados em colaborar e contribuir para uma CAUSA SOLIDÁRIA.
De todo o modo falar sobre este Movimento de Humanidade dos Bombeiros é um assunto que não se esgota com a publicação de um único trabalho. O seu dia-a-dia continua a ser o de zelar pela segurança e pelos cuidados a prestar às populações, com uma motivação imensa e sempre renovada.
Com a eleição em finais de 2015 de um novo Comandante, Rui Miguel Saramago, e também de um novo Presidente, José Monteiro Januário, para além do mérito das distinções atribuídas a elementos com muitos anos de trabalho, esforço e entrega completa a esta Causa, como são exemplos os subchefes António Emílio dos Santos Rodrigues e Ernesto Martinho Cegonho, parece-nos ser importante mais uma vez falar sobre as experiências destes homens, conhecer as suas ideias, anseios e sentimentos, com o enorme Agradecimento, Admiração e Respeito que merecem todos aqueles que pertencem à Solidária e Fraterna FAMÍLIA DOS BOMBEIROS.

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Muito obrigado ao meu Amigo João José Matias Bento, um Homem que tem colaborado, participado e sido o grande divulgador das várias actividades que se vão desenvolvendo pelo Concelho da Chamusca (também ele membro da direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca, desde 2002, fazendo parte do Conselho Fiscal), que colheu as entrevistas, tirou e solicitou as fotografias que tornaram possível esta publicação, que pretende igualmente sensibilizar a população, sobretudo os mais jovens, para participarem mais activamente numa causa que deve ser Sentida e ABRAÇADA por todos nós.


Declamando um poema durante um evento realizado na Biblioteca Municipal da Chamusca.

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José Monteiro Januário, 55 anos de idade, engenheiro civil, de profissão, está há poucos meses à frente dos destinos da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca, como Presidente da Direção, eleita nos finais de 2015.

Que motivações o levaram a disponibilizar-se para integrar os quadros diretivos da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca?

Há uns anos, não consigo precisar quantos, numa sessão solene por altura do aniversário dos Bombeiros, tive a honra de receber uma medalha dedicada ao meu avô José Máximo dos Santos, como fundador da Associação. O ato em si muito simples, mas de enorme significado para mim, despertou-me para uma realidade até então desconhecida, que o meu avô tivesse sido um dos fundadores. A medalha é uma recordação que guardo religiosamente com um enorme carinho e orgulho. Mas o sentimento e principalmente respeito que tenho pela Associação, sobretudo pelo trabalho dos voluntários, destes homens que fazem a Associação, surgiu nos fogos de Agosto de 2003. Foram momentos de grande sofrimento para todos, que não esqueço, tendo dado e colocado o meu contributo voluntário à disposição do nosso Município na elaboração dos projetos de todas as novas habitações que foi necessário construir por todo o Concelho para albergar os desalojados.

Há quantos anos integra as direções?

Integrei os elementos da Mesa da Assembleia nos 2 mandatos anteriores. Tenho participado e apoiado a Associação há vários anos com o meu trabalho na minha área profissional, sempre que me foi solicitado.

Lidar com Eurico Monteiro incentivou-o ainda mais para vir a pertencer e a colaborar com aos Bombeiros?

O ex-Presidente Eurico Monteiro é uma referência para todos nós, ao qual a Associação será eternamente grata pela dedicação de muitos anos ao seu serviço. Tive a sorte de estar envolvido nalguns projetos com ele, dos quais resultou uma amizade e respeito mútuos. A morte repentina e inesperada do Eurico ocorreu poucos dias antes das eleições para os novos corpos gerentes 2016/2019, essa é a razão primeira que me levou a encabeçar a lista da nova Direção, no respeito pelo seu trabalho e pela sua memória.

Acompanhado pelo ex-Presidente Eurico Monteiro na inauguração do novo edifício de apoio dos bombeiros.


Eurico Monteiro emocionado perante a placa e a homenagem, através das quais  a Associação lhe prestou o merecido agradecimento ainda em vida.

Está muito ligado à construção do novo edifício de apoio aos Bombeiros?

Em 2009/2010, a Direção convidou-me para elaborar o projeto do novo edifício de apoio, que avançaria para a construção na eventual possibilidade de financiamento e comparticipação comunitária. Tivemos a sorte do projeto que apresentámos em Lisboa ser um dos contemplados e aprovados de entre as dezenas de projetos apresentados pelas várias Associações, e eu principalmente tive a honra de o projetar, acompanhar, fiscalizar e inaugurar.




Descerrando a placa de inauguração do novo edifício de apoio

A placa da inauguração e o agradecimento.

Como é que surgiu o convite para assumir a presidência da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca?

Era impensável para mim, há uns meses atrás, ser um dia Presidente desta Associação. Tenho uma vida profissional muito preenchida, 90% do meu trabalho é fora do Concelho o que me obriga a muitos km de estrada. Faço serão todos os dias, trabalho muitos fins de semana, tenho uma dedicação quase doentia (mesmo muito doentia segundo a minha família) à minha profissão e ao meu trabalho. Há, contudo, momentos da nossa vida em que não podemos voltar costas às responsabilidades, e a lacuna da morte do Eurico obrigou-nos a tomar decisões rápidas, das quais resultou a proposta dos restantes elementos de encabeçar a lista. Não sei se foi a escolha certa pelos muitos defeitos e inúmeras limitações que entendo ter para a responsabilidade deste cargo, mas é um projeto que abracei desde a primeira hora e ao qual me dedico a 100%.

Como foram estes primeiros meses de mandato como presidente? Tem sentido o apoio de todos?

Estes primeiros meses de mandato (já me parecem anos) têm sido principalmente de aprendizagem e adaptação a realidades até agora desconhecidas. Não é uma tarefa fácil, ocupa muito do meu tempo, mas não o considero tempo perdido, pelo contrário, tem sido uma experiência aliciante e muito enriquecedora. Os defeitos e limitações que referi têm-se ultrapassado com o apoio dos restantes elementos da Direção, dado que funcionamos como um todo com objetivos comuns. Contamos na Direção com dois pesos pesados, com muitos anos de experiência e sabedoria, os comandantes Manuel Rufino e João Saramago que nos têm ajudado, elucidado e principalmente orientado na tomada das decisões mais importantes e complexas, principalmente nas áreas ligadas ao pessoal e à operacionalidade que se pretende do corpo de bombeiros. Temos um quadro de comando e de pessoal que entendo ser de excelência e nos facilita a gestão corrente.

Como Presidente, preocupa-o a renovação do corpo ativo dos bombeiros?

O nosso corpo ativo de Voluntários é dos mais reduzidos do Distrito. Esta é uma dura realidade que encontrei e que se tem vindo a agravar ao longo dos anos, um problema grave de estrutura operacional de voluntariado, para a qual não temos nem sabemos qual a solução imediata mas que pretendemos reverter. Será uma tarefa difícil, mas é nosso objetivo, a partir de Maio, iniciar ações de sensibilização junto dos jovens pelo Concelho e dinamizar ações de natureza cultural, desportiva e social que levem os jovens a procurar, a conhecer e integrar a nossa casa.

Qual o estado do parque de viaturas?

O parque de viaturas está dimensionado e foi recentemente estruturado e renovado para a prestação dos cuidados de saúde e de emergência que prestamos, entendendo-se não ser de momento necessária qualquer restruturação.


                Com a mulher, ladeado por algumas viaturas da Associação.

Continua a haver um grande relacionamento com a Câmara Municipal da Chamusca?

A Câmara Municipal de Chamusca é o maior parceiro dos bombeiros e, sejamos francos e honestos, sem os protocolos celebrados entre Associações e Municípios seria de todo impossível manter qualquer estrutura operacional em normal funcionamento e com alguma saúde financeira. Mas a responsabilidade primeira do Município é a de servir a população e o seu Concelho, sendo essa também a nossa prioridade.  Convergindo para objetivos comuns é fácil o entendimento e tem sido excelente o relacionamento.

Qual o seu incentivo e a sua mensagem aos Bombeiros e à população do concelho da Chamusca?

Aos Bombeiros o meu apreço, o meu respeito pelo trabalho e dedicação que demonstram dia a dia no exercício da sua função e a garantia da minha total disponibilidade. À população, principalmente aos jovens, um incentivo a que nos procurem, se juntem a nós e nos ajudem a dar continuidade a esta missão de dar um pouco de nós aos outros. Aos sócios que sejam mais responsáveis, participativos e interventivos nas sugestões e decisões desta casa que é de todos, principalmente nas Assembleias que continuam ano após ano, totalmente esvaziadas. 


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Para Rui Miguel Saramago, 43 anos, o quartel dos Bombeiros da Chamusca é a sua segunda casa. Desde criança que começou a frequentar aquela Associação. Foi pela mão de seu pai, João Saramago (antigo adjunto e segundo comandante) que entrou para os Bombeiros, há 28 anos, dando início a um percurso de muito trabalho, empenhamento e dedicação. Há cerca de três anos foi proposto para ajudante de comando, tendo tomado posse como Comandante há cerca de um ano, por proposta de Manuel Rufino, ex- comandante, e da direção, devido às suas qualificações adquiridas nos diversos cursos que frequentou durante vários anos.

 Que motivações o fizeram vir para os Bombeiros?

O que me trouxe para os bombeiros foi a influência de meu pai, que desde muito novo me trazia com ele para esta casa, onde comecei a familiarizar-me com a família dos bombeiros, onde era muito acarinhado e incentivado. Também fui durante muitos anos a coqueluche dos mais velhos, que com as suas brincadeiras e ensinamentos me prepararam para aquilo que sou hoje.
Por outro lado, vir para os Bombeiros era ter acesso a coisas que os jovens lá fora não tinham, por isso fui ganhando gosto por esta causa, não só eu mas também outros jovens. Agora tudo mudou, houve uma grande mudança, na ordem dos 360 graus, relativamente aos jovens se identificarem e gostarem dos bombeiros. Agora têm tudo, mas falta-lhes muito amor ao próximo e também a esta causa.

A continência do pai, João Saramago.

Como é que os bombeiros mais velhos recebiam os mais novos na época em que começou?

Recebiam-nos sempre muito bem, havia um grande carinho, muita amizade e um grande respeito mútuo Isso aconteceu comigo que cresci cá dentro e fui durante muitos anos a mascote dos bombeiros, servindo para as suas brincadeiras (praxes, mas sem haver maldades). Desse modo aprendi a ganhar experiência, o que me fez evoluir como pessoa e muito como bombeiro, já que era visto como homem integrado na família dos bombeiros. Tudo isto foi muito vantajoso, porque adquiri muitas aptidões, nestes 28 anos, com as histórias de vida dos mais velhos. Com estas lições de vida não trilhei outros caminhos menos corretos, o que aconteceu com alguns jovens daqueles tempos que não foram capazes de se integrar nestas e noutras causas. Este relacionamento foi muito bom e tenho um carinho muito especial por todos.


Acompanhado de um dos bombeiros mais antigos, Manuel João Nalha de Oliveira

Muitos fogos, muitos acidentes, mas há sempre aqueles que deixam as suas marcas?

Estes 28 anos foram de muita atividade e ficam sempre na memória algumas situações que deixam as suas marcas. Recordo aqui um grave acidente de viação, ocorrido na Murta, onde estiveram envolvidas três viaturas. Nós fomos chamados e deparamos com feridos bastante graves, entre eles uma jovem de 6 anos, a quem fizemos tudo para a reanimar, mas não foi possível salvá-la. Também lembro o acidente com o Jorge Barreiras, natural de Ulme, que muito me marcou e de quem era muito amigo.
Quanto a fogos, eu não fujo à regra, os que mais me marcaram foram os fogos de 2003 na Chamusca. Mais de 20 mil hectares de floresta e culturas desapareceram em poucas horas.
Senti uma grande impotência por querer chegar a todo o lado e não conseguir, porque o fogo estava a alastrar pelo concelho fora. A violência dos incêndios, as mortes e a dor das famílias ainda mexem com o meu íntimo. Também foi marcante porque estava de férias e fui chamado para voltar o mais rápido possível, porque a Chamusca estava em chamas e tinha a consciência que era urgente vir cumprir a minha missão.


         Agosto de 2003. O contraste entre as cinzas da charneca ardida e do verde da lezíria. 



       Agosto de 2003. Bombeiros lutando contra uma das frentes dos fogos.


Que diferença nota dos tempos em que entrou para os bombeiros e o momento atual?

Houve uma grande evolução naquilo que é a organização dos bombeiros. Deu-se uma grande restruturação. Todos os 37 homens no ativo têm as devidas competências para atuar nas mais diversas áreas.


Corpo activo dos Bombeiros depois de um exercício de derrame de produtos tóxicos.

No que se refere às infraestruturas estamos bem. A Associação tem feito um esforço enorme para dotar o corpo ativo das melhores condições para que estejamos sempre operacionais. Este é um trabalho na linha do que vinha sendo feito pelo antigo comandante, Manuel Rufino.
Sei que nem sempre se tem tudo, mas só com o tempo se vai gerindo o que falta e o que é mais prioritário dentro das disponibilidades da Associação. Volto aqui a frisar que a nível de equipamento e formação, estamos bem, mas a grande lacuna é a falta de aderência ao voluntariado, sobretudo dos jovens.

Esperava alguma vez ser nomeado ou convidado a assumir o Comando do corpo ativo da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca?

Sou bombeiro de carreira. Não vou dizer que não pensava e não gostava de assumir esse cargo, mas para isso suceder teria que haver condições para tal. No ano de 2013 fui convidado pelo ex-comandante Manuel Rufino, com a concordância da direção, para assumir as funções de adjunto de comando e posteriormente a de comandante. Abracei com o meu total empenhamento estas funções propostas pela direção e pelo comando.
Sei que não agrado a todos, mas acima de tudo está o bom nome dos Bombeiros. Com tão pouco tempo no cargo de comandante, pouco ou nada se nota, só o tempo e a experiência adquirida poderão confirmar a minha capacidade de liderança.



O ex-comandante Manuel Rufino que, com uma experiência de muitos anos de comando, viu em Rui Saramago competências para assumir o cargo de Comandante.

                              No seu primeiro discurso como Comandante.


Com a mulher e os filhos. Muito importantes no seu trajecto familiar e profissional.

Esta sua nomeação para comandante foi bem aceite pelos seus companheiros?

Cada um vale o que vale, são 40 cabeças a pensar e de formas diferentes e nunca se pode agradar a todos. Eu não fui nomeado para agradar, estou aqui para comandar e elevar o bom nome da Associação e do seu corpo ativo. Só com o grupo todo unido me é possível comandar. Tento ser o mais assertivo possível, basta não se cumprir as regras e lá está o comandante a ter que intervir.
Quando assumi o comando, tive algum grau de dificuldade. Isso foi evidente. Bombeiro há 28 anos, conheço todo o pessoal, fui com eles bombeiro de carreira, relacionando-nos no dia a dia. Mas agora o comportamento da minha parte é diferente, porque a minha função é outra, contudo há um grande respeito e frontalidade por parte de todos os bombeiros.


Marchando unidos por causas fundamentais: elevar o bom nome da Associação e servir as populações.

É difícil dirigir pessoas?

É bastante complicado, num sistema onde há muitas regras, onde tem que imperar a disciplina e o bom comportamento. O que agora se nota é que não há o serviço militar obrigatório, pois era na tropa que se aprendiam muitas das regras disciplinares. Não havendo essa experiência, é necessário incutir no espirito dos bombeiros mais novos todos esses conceitos, o comportamento, o cumprimento de regras e determinações. Por isso digo muitas vezes que a tropa foi a minha segunda escola, onde eramos educados, disciplinados, onde havia regras e horários, formaturas e muitas outras coisas que agora têm que ser aqui ministradas e aprendidas, o que para muitos é complicado, porque todos procuram os seus direitos, mas é preciso dizer-lhes que também têm deveres.

Estamos na parte final da nossa entrevista, uma palavra de sensibilização aos Bombeiros e à população da Chamusca?

Quanto aos Bombeiros, louvo o grande esforço familiar que fazem, a sua abnegação e dedicação, abdicando do seu tempo, do lazer, do convívio dos seus.
Para os jovens da Chamusca uma simples mensagem, que comecem a despertar e a viver mais para a causa dos bombeiros. Eu tenho uma mão cheia de nada para lhes oferecer. Os incentivos ao voluntariado não existem. As instituições ao nível nacional terão de olhar com outros olhos para a questão do voluntariado, criando incentivos para que os jovens olhem para os Bombeiros de outra forma.
Contudo tenho uma coisa muito importante para dar a essa juventude, que é o fazer o bem sem olhar a quem, estar próximo das pessoas, porque ser bombeiro é isso mesmo, participar numa missão de solidariedade.
 Relativamente à população o que posso garantir é que somos poucos, mas estamos altamente treinados e preparados para responder a todas as solicitações que as pessoas nos façam e a ajudar quando necessitem. Gostava que nos vissem sempre desta forma e com o nosso lema sempre presente “ Vida por Vida”.  


As pessoas do Concelho da Chamusca também acompanham com muito empenho a vida da sua Associação de Bombeiros. Nesta ocasião, no dia 25/04/2015, nem a chuva aos desmobilizou nas comemorações do 65.º aniversário, que contou com a presença do Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares.

                                                            *****



António Emílio Rodrigues, 58 anos de idade, entrou para os Bombeiros, em 1975, foi distinguido com o Crachá de Ouro, pela Liga dos Bombeiros Portugueses, no dia 25 de Abril de 2015, dia dos 65 anos da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca, pelo seu total empenhamento, dedicação e disponibilidade ao longo de todos estes anos ao serviço do bem comum.

O que é preciso um bombeiro fazer para merecer a enorme distinção de receber o Crachá de Ouro, da Liga dos Bombeiros Portugueses?

Penso que isso só foi possível e se deveu à minha dedicação aos Bombeiros da Chamusca nestes 40 anos. A qualquer hora do dia ou da noite, estive sempre disponível para servir a causa de dar “ Vida por Vida”. Estive sempre disponível para colaborar com a Associação e com o Corpo Ativo.

                                        O diploma do crachá de ouro.

O que é que sentiu quando foi chamado para receber o Crachá de Ouro?

Não há palavras para descrever a minha emoção. As lágrimas de alegria correram-me pela cara abaixo. Só desconfiei quando me mandaram retirar as medalhas que tinha ao peito e pensei que algo se ia passar. Estava longe de tal ideia de ser agraciado com o Crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses, pela dedicação à Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca. Este foi um dia que ficará para sempre na minha memória.

De rosto emocionado, enquanto aguardava ser agraciado com o crachá de ouro.

O ex-Presidente da Associação, colocando-lhe a crachá de ouro sob o olhar do Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Nesta sua longa atividade, teve que acorrer e intervir em muitas ocorrências, qual a que lhe deixou mais marcas?

Ao longo da minha vida nos Bombeiros fui solicitado para muitas e muitas ocorrências. Fogos, acidentes e tantas outras, mas a que deixou marcas muito profundas foi o fogo de 2003 na Chamusca. Sentir que tudo o que sabíamos e tínhamos aprendido não chegava. Sentíamo-nos impotentes, porque queríamos chegar a todos lados e não conseguíamos combater a tragédia que se abateu sobre o concelho da Chamusca.


   O fogo de 2003 chegou à Rua do Vale, no centro da Vila da Chamusca.



Conseguiu transmitir à família o bichinho dos Bombeiros!?

Realmente isso aconteceu comigo. Tenho um filho de 34 anos que é atualmente bombeiro de 2.ª. Veio para cá muito jovem e tem nesta altura várias formações na área do socorro e incêndios e grandes responsabilidades no corpo ativo dos Bombeiros da Chamusca.

       O seu filho, Luís António Rodrigues, durante um exercício de simulação.

Espera continuar ainda muito tempo nos Bombeiros?

Quero continuar pelo menos até aos 60 anos. Depois terei de ver como estou fisicamente e se as minhas capacidades se mantêm. Se vir que não consigo, solicito o Quadro de Honra. Mas o que eu gostava realmente que acontecesse, enquanto estou no ativo, é que a malta mais nova viesse até aos bombeiros com mentalidade e a certeza de poder ajudar os outros.


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Ernesto Cegonho, 71 anos de idade, está nos Bombeiros Voluntários da Chamusca desde 1971. Apesar já não fazer parte do ativo está no Quadro de Honra e continua a dar o seu contributo empenhado na direção da fanfarra. Nos festejos dos 65 anos da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Chamusca, foi homenageado precisamente pela sua dedicação à fanfarra.

            Tem uma longa vida ao serviço dos Bombeiros?

            É verdade. São já cerca de 45 anos ao serviço de uma grande causa. Apesar de já estar no quadro de Honra, ainda por cá continuo e sinto-me muito bem junto dos jovens dirigindo a fanfarra.

            Que momentos mais o marcaram nestes quase 45 anos, ao serviço dos Bombeiros?

            Tive momentos muito difíceis, como os fogos de 2003, mas o que mais me ficou na memória foi o fogo na casa de habitação da D.ª Maria José Guimarães. Depois de retirar alguns bens materiais, ao sair pela janela e quando já estava a alcançar a escada de incêndio o teto ruiu. Foi por segundos que não fique lá debaixo.

            O que é que sentiu ao ser homenageado pelo seu empenho ao serviço da fanfarra da Associação?

Senti-me muito satisfeito e feliz, porque reconheceram o meu trabalho na formação da fanfarra e o facto de ter conseguido fazer a sua renovação, havendo agora mais qualidade entre os elementos que a compõem. Tudo isto era motivo de orgulho para o presidente Eurico Monteiro e para a Direção da Associação.


Recebendo a placa de homenagem das mãos de Eurico Monteiro, ex-Presidente da Associação.

                                   A satisfação de ter sido distinguido.


                                               A placa da homenagem.

            Como é que surgiu a ideia de formar uma fanfarra nos Bombeiros da Chamusca?

            Quando estive na tropa toquei numa charanga. Houve até um sargento que me pediu para eu tocar tambor e caixa e a coisa resultou. Ainda toquei também contrabaixo.
Quando vim, em 1974, encontrei uma pequena fanfarra nos Bombeiros da Chamusca, onde toquei, mas durou pouco tempo. Passados que foram alguns anos falei com o 2.º comandante, João Saramago, e disse-lhe que tínhamos que organizar uma fanfarra. Ele respondeu-me que se ia pensar nisso, mas o tempo foi passando e só na direção liderada pelo Eurico Monteiro (já falecido), foi possível concretizar essa aspiração, porque também ele gostava muito de fanfarras.

            Como lhe chegou o convite para dirigir a fanfarra?

            Foi de uma forma muito simples. Um dia ao escutar o rufar dos tambores não resisti e o maestro, que era de Minde, mandou-me tocar tambores. Ao ouvir-me, falou com o comandante dos Bombeiros e disse-lhe: “Já temos maestro.”

            Na fase inicial da Fanfarra não haviam tantos jovens?

            É verdade. Era constituída por homens mais velhos, que até eram meus amigos, e que talvez não gostassem da parte onde tinham de ter regras e que não aceitavam tantos jovens na fanfarra. Com a saída de alguns deles tive de reunir gente mais jovem, que é agora a maioria esmagadora dos músicos da fanfarra.



No regresso ao Quartel depois de mais uma actuação pelas ruas da Chamusca, sendo visível o elevado número de jovens que compõem a fanfarra.





            Como é lidar com estes jovens?

            É muito gratificante, comecei por lhes ensinar a estarem em formatura, a obedecer nos ensaios e nas atuações. Já atuamos em procissões, festas e arraiais, desfiles, festas de Natal e inaugurações. Recentemente estivemos em Almeirim, no lançamento da primeira pedra do edifício dos Bombeiros.


                                       Numa actuação pelas ruas de Lisboa.

            Os jovens aderem muito à fanfarra?

             Sim, têm vindo até nós vários jovens. Alguns estão cá pouco tempo, mas outros querem mesmo seguir na fanfarra. Sinto-me feliz por estar com eles, todos me respeitam, e por isso enquanto puder e me deixarem irei andar por cá.



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Quadro contendo os cargos, o número de sócio e os nomes dos actuais membros da Direcção